domingo, outubro 30, 2011 2 comentários

Eu não acho graça.

Acontece sempre mas a gente simplesmente não percebe, piadas maldosas estão sempre respingando na internet, no facebook, twitter e etc. Normalmente são feitas por anônimos, e muitas vezes por humoristas fracassados e subcelebridades.
E acreditem, tem gente que ainda brinca com o câncer. Outro dia foi Danilo Gentili fazendo piada sobre a recuperação de Hebe Camargo. E desde ontem, muitas pessoas estão postando no facebook uma piadinha infâme sobre a doença do ex-Presidente Lula.

Eu sou anti-PT, sempre fui!!! Não gosto do Lula, nem de Dilma e nem de ninguém desse governo, adoro criticar o estado da saúde pública do país, apesar de eu simplesmente não preciso usar o SUS, mas não acho legal brincar com a doença de outra pessoa. 
Não é porque não gosto de uma pessoa que eu acharia graça em piadas desse gênero. Eu não tenho inimigos, mas mesmo que tivesse, com certeza não desejaria que essa pessoa tivesse uma doença, muito menos que essa doença fosse câncer.
Se o ex-Presidente vai se tratar no sistema privado de saúde, sorte a dele, eu também estou me tratando, sorte a minha. Nós temos mais chance de ter um tratamento mais efetivo e mais rápido, mas o sistema privado  também pode errar e ser ineficiente (para quem não sabe, um ano atrás eu fiz exames e tive um falso negativo, pois segundo meu médico, a doença já estava se desenvolvendo a mais ou menos dois anos).
Se você é uma pessoa anti-governo, se você acha que os políticos deveriam usar o SUS para constatar a ineficiência do sistema público, ok, mas fazer piada com o estado de saúde de uma pessoa que vai enfrentar uma guerra pela frente não é adequado (na minha opnião).
Além da quimioterapía, que é uma visita no inferno à parte, o Lula vai enfrentar uma cirurgia difícil, pode até perder a voz ou o paladar no tratamento, eu não acho a menor graça nisso e você? Ainda acha isso engraçado?
quarta-feira, outubro 26, 2011 5 comentários

Compensação

Ai que coceira dos infernos! (ok, não tem nada a ver a coceira com o resto do post, mas não tinha como começar a escrever hoje sem reclamar dessa coceira. Estou me sentindo um poodle pulguento. Haja Allegra!!).
E por essas e outras razões, que nem preciso mencionar, é que eu fico tentando encontrar qualquer maneira de compensação. É um sistema bom e ruim ao mesmo tempo.
Quando a gente está para baixo, se achando feia, azarada, esquisita, escolhida ou magoada, compensar é bom. É simples: "Eu estou triste, quero meu cabelo de volta!", nada que um brigadeiro de panela com sorvete de creme não resolva, ou então, "Por que eu tenho câncer, meu Deus?!" e da-lhe vestidinho novo. Cartão de Crédito, para que te quero!

Maaaaas..... quando a gente acaba comendo brigadeiro demais acaba engordando demais, ou quando compra vestidinhos demais, acaba gastando demais e essas coisas não são boas. Então, até que ponto a compensação ajuda?
É difícil dizer, porque na ponta do lápis, nada é capaz de compensar as dores e o sofrimento que a doença traz. O fato de tomar Rivotril para dormir não quer dizer que o remédio te trouxe a paz de deitar a cabeça no travesseiro e dormir.
Eu acredito que a compensação é válida, porque durante o tratamento, o meu foco é não deixar a peteca cair e isso não é muito fácil, as vezes precisamos de uma ajudinha. E nada como um vestidinho para segurar a peteca lá em cima.

Mas o que adianta um closet lotado (como se eu tivesse um closet) e depois uma fatura de cartão impagável? Isso seria mais uma preocupação para minha vida e eu não quero.
Então.... é força na peruca para controlar os reais a menos e os quilinhos a mais, e tentar compensar saindo com as amigas, esmagando os sobrinhos, jantar com a família, dengos do namorado e quando eu me der conta, estarei acordando em 2012, quando tudo já estiver terminado (um sonho!).

Com brigadeiro ou sem, a luta continua.
Beijos,
Thai
segunda-feira, outubro 24, 2011 3 comentários

Embarangamento.

O verbo "embarangar" não existe, tecnicamente falando. Se você procurar no dicionário, ele não vai aparecer. No entanto, a palavra "baranga" existe e significa: "mulher feia, muito ruim, sem valor, de má qualidade".
Sendo assim, resolvi inventar um significado para esse novo verbo, que passou a fazer parte da minha vida, a partir de agora embarangar existe e significa: "perde gradativa da beleza, mulheres que envelhecem e engordam em uma velocidade incrível, deixando o que é bonito para trás".
É inegável que o tratamento contra a doença tem essa tendência espetacular para arrasar com as mulheres, especificamente. Queda de cabelos, cílios e sobrancelhas. Uns quilos a mais. A peruca trazendo todo aquele aspecto Playmobil. (Está ai Britney que não nos deixa mentir!)

Não estou dizendo que antes eu fosse a sósia da Grazi Massafera, mas no momento, a situação não está das melhores. Com tantos fatores tentando me embarangar, tento compensar com mais maquiagem, umas roupas mais arrumadinhas, sei lá, estou tentando compensar com o que dá.
É difícil segurar a auto-estima, mas é um esforço necessário para não deixar a peteca cair e não esquecer que eu ainda sou eu.
O negócio é se apoiar em duas coisas: o amor do namorado, que mesmo quando você está de pijama e lenço diz que você é linda e a beleza interior. Digamos que não sou nenhuma Madre Tereza de Calcutá, mas até que sou bem bonitinha por dentro.

quinta-feira, outubro 20, 2011 4 comentários

Post da Flor I


Bom, hoje o post é da Flor. Só uma palavra para definir: lágrimas.
Foi tão dificil escolher uma só foto para ilustrar esse post, que eu escolhi duas. Nossa história é puro rock, bebê! Love u.

"Só pra contextualizar, pra quem ainda não sabe/não percebeu, somos uma turma de amigas bem amigas. Nos falamos todos os dias, nos vemos quase toda semana, mas é mais que isso... nós nos conhecemos. Na palma da mão. Todos os casos, todas as piadas, todo o passado, todos os fiascos, arrependimentos, loucuras, surtos... sabemos de tudo. Fazemos planos para o futuro, pros casamentos, pros filhos, pras casas, e sempre nos imaginamos velhas e enrugadas enchendo a cara de vinho tinto nos nossos encontros, daqui a uns 50 anos. Enfim, somos amigas do tipo que ajudam a jogar o corpo do defunto no fundo do rio (mesmo porque a gente assiste Dexter e já pegou as manhas).
Todo mundo conhece alguém que tem ou teve câncer. Algum parente, algum avô ou avó, tia, vizinha... não é uma doença alheia à realidade de ninguém, hoje em dia. Eu nunca tinha tido ninguém da minha família nem ninguém muito próximo com câncer, mas believe me, minha família tem uma considerável dose de doenças sérias e assustadoras (herança genética maravilhosa a minha), e eu, em tese, deveria ser mais “resistente” a esse tipo de notícia. Mas não fui.
Até tentei fazer um post que não falasse do dia em que fiquei sabendo e de como foi pra mim receber a notícia de que uma das minhas melhores amigas está com câncer no colo do útero. E apesar de ter começado o meu post tentando explicar um pouco a força da nossa ligação, aquele parágrafo lá em cima e essa expressão, “uma das minhas melhores amigas”, nem começam a explicar a importância que a Thai (e a Mah, Dani e Ju) têm pra mim.
Eu cheguei no trabalho numa segunda-feira comum, me sentei no computador e tinha um email da Thai. Normal, quase todo dia tem um email da Thai na minha caixa de entrada... até que eu li:
“Hoje eu vim aqui falar de uma coisa séria. Amiga, eu estou com câncer.”
Daí pra frente o meu dia foi... Como um dia solto no tempo. Como um sonho ruim no qual eu não entendia direito as coisas, não conseguia acordar, não conseguia compreender... não conseguia resolver. Me lembro vagamente de chorar na minha mesa, de chorar falando com as amigas do trabalho, chorar falando com o chefe, chorar ligando pro namorado, chorar em casa pelo resto do dia. E me lembro de ficar muito, muito grata por ela ter me contado por email e não pessoalmente, porque eu não queria ficar daquele jeito perto dela, ela precisava de força, e não da tristeza profunda e do vazio imenso que eu sentia.
Sabe... a gente não imagina uma coisa dessa, um câncer super agressivo aparecendo do nada naquele belo útero de apenas 25 anos. A gente vai vivendo, vai se ocupando dos nossos problemas diários, dos nossos dilemas e crises existenciais, dos nossos dramas familiares, e a gente acha que tá pronto pra essa tal de vida adulta, que tá se saindo bem na missão, até que a vida vem e dá uma rasteira dessa. E nos mostra que ela pode ser muito mais cruel, mais séria e mais urgente do que pensávamos. Até então, 25 anos era tanta coisa, era tudo que eu vivi até agora e me parecia tanto tempo, mas de repente, 25 anos ficou tão pouco. Há tempos eu não me sentia e não nos sentia tão jovens, tão crianças, tão pequenas, diante do tamanho da vida e seus percalços. Quando a notícia caiu no meu colo, toda a minha perspectiva mudou. A minha forma de ver o mundo, a vida, tudo aquilo que era tão sério pra mim até então, que me preocupava tanto... tudo ficou pequeno e mesquinho demais. E até hoje, tudo continua mudando de tamanho e de importância e seriedade.
Eu tenho uma concunhada (e amiga) que é psicóloga e trabalhou um tempo com as crianças da ala oncológica do Hospital das Clínicas, e num desses dias difíceis ela me disse que, num caso oncológico, toda a família e pessoas próximas do paciente são também pacientes. E isso fez muito sentido pra mim. Eu vivo cada dia, cada etapa do tratamento, cada passo, junto com a Thai. Cada conquista dela (e meu Deus, como ela tem conquistado) é uma conquista também pra mim. Ela tem a careca mais linda do mundo (embora ela nunca vá acreditar nisso) e a alma mais linda também. Ela tem uma força, uma alegria, um otimismo e uma coragem que beiram o inacreditável, e é uma coisa LINDA poder acompanhar de perto esse crescimento, essa luta, esse show que ela tá dando nessa doença ridícula. Como a Tata disse, ela já venceu, nós já vencemos. E nunca foi tão gostoso vencer" 

terça-feira, outubro 18, 2011 4 comentários

Segunda Sessão de Quimio

Oi pessoal!
Ontem fiz minha segunda sessão de quimio e foi bem tranquila, assim como a primeira, mas eu dormi a maior parte do tempo. Aquele anti-alérgico derruba.
Adivinha qual a primeira coisa que a médica e as enfermeiras falaram para mim??? Sobre meu cabelo novo. Todos só conseguem reparar nele, mas fazer o que? Tenho que me acostumar com essa cabeleira durante alguns meses. De resto, aquela coisa um pouco desagradável, gente chegando de muleta, de cadeira de rodas, pesando menos de 40 quilos e algumas pessoas contando histórias de 10 anos de quimio (acho que é mentira!! só para constar), mas também, muita gente jovem meio perdida naquele lugar, outras mulheres de peruca ou lenço.
Enfim... qualquer um pode ter câncer né?? Infelizmente, não é uma coisa que se pode prever.
O que importa é que nesse momento, tudo está bem e eu acho que poderei continuar levando uma vida normal, incluindo um pouco de trabalho, encontros com as amigas, passeios com o namorado, reuniões familiares.
Meu próximo desafio é tentar descobrir como fazer penteados variados na peruca, porque eu não gosto de cabelo no rosto e continuar me mantendo saudável, com cílios e sobrancelhas, que ainda não caíram totalmente, mas já deram uma reduzida.

Para finalizar, vou postar um vídeo do Gianecchini maravilhoso. Para mim, tudo o que ele diz faz cem por cento de sentido.

Bom, por hoje é só.
A luta continua. Para mim, para o Giane e para milhares de outras pessoas.
Beijos, 
Thai
sexta-feira, outubro 14, 2011 6 comentários

Post da Mah I

Hoje a estrela do dia é minha amiga amada, responsável pela existência desse blog.
Sem as aptidões internéticas dela, eu não teria me animado para começar. É uma das pessoas que me traz  força e as lembranças dos nossos momentos juntas, me faz pensar que vale a pena seguir em frente. Por essa razão, tomei a liberdade de postar uma fotinho nossa da vida real para ilustrar o texto dela.
Mayara de Paula, só tenho que te agradecer por tudo. 
Te amo, amiga.

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
É com essa frase clichê que eu - como mera colaboradora do blog hahaha - começo meu post. 
Nao vou escrever aqui sob o ângulo da paciente, que eu não sou. 
Tampouco tentar descrever as sensações/pensamentos da minha amiga, 
afinal essa tarefa ela já está desempenhando (magistralmente). 
Eu sou a pessoa que está do outro lado.


Cheguei por último entre elas, falando devagar (já mudei), com o coração pela metade, um pedacinho aqui e outro no interior. 
Fui ficando. Conhecendo. Me apegando. E sem avisar, o que antes era meramente informal, se tornou essencial. 
Minhas melhores amigas. No plural mesmo. Cada uma com sua personalidade distinta e ímpar.
Eu sou daqueles que acreditam que amor é pra ser distribuído! Tem espaço pra elas aqui.


Daí que os dias iam passando, sem muitos sobressaltos. As gargalhadas ganhavam disparado das lágrimas. 
O score estava patético pro time da tristeza.
Não que a vidinha da gente fosse perfeita. Não era. Jamais será (human beings!).
Mas pra mim, o placar estava ótimo. Pra tudo se dava um jeitinho, um jantarzinho, um vinhozinho...
Até que entre uma aula e outra (sou vestibulanda novamente) meu celular tocou e eu, que sou do time das mensagens de texto, 
pensei: "Mas porque a Flor tá me ligando???"
Quando eu atendi, notei que a voz dela estava diferente. Era uma tom que eu nunca tinha ouvido. 
Ela disse: "Amiga, eu tenho uma notícia pra te dar. Fica calma, tá?"
Pois é. Eu não fiquei calma.


Eu não fiquei calma por muitos dias.
Os estágios que se sucederam seriam até engraçados se não estivessem acontecendo comigo e com a minha amiga.
Primeiro eu pensei: "Mas que brincadeira de mau gosto é essa?"
Na mesma hora amaldiçoei a pessoa que mora lá em cima e fiquei pensando em quem seria o responsável pelo setor das notícias-sem-noção.
Nesse momento, câncer era só uma palavra, substantivo masculino, singular (Alô, vestibular!).
Depois, a frase começou a fazer looping no meu cérebro: "A Thai está com câncer. A Thai está com câncer.³"
Assim, infinitas vezes. 
Aí começou a fazer sentido. E aí eu comecei a chorar.
Pedi licença e saí da sala de aula. Fui pra casa me permitir chorar todas as lágrimas que eu quisesse.
E gritar pro mundo o quando ele era injusto, sujo, cruel.


Depois eu fui tentar barganhar com Deus. 
Ofereci umas coisas pra ver se ele devolvia a saúde da minha amiga, mas até agora não obtive resposta. 
E as propostas até que eram boas...
Chorei de novo, mas lágrimas não amenizam angústia.
Essa parte dura um tempão. Eu não achava ninguém pra por a culpa!
Até que eu finalmente entendi que certas coisas simplesmente acontecem e não 
vai haver um culpado, por mais que eu procure, não existe. São as tais fatalidades da vida.
Quem inventou isso? Eu mato! (Maturidade, beijos.)

Quando eu me senti forte, veio o outro estágio "Meu Deus, o que eu vou dizer dizer pra ela?"
Essa parte é curiosa. Ao mesmo tempo em que é uma das suas melhores amigas, a de sempre, que você já viu de pijamas, sem maquiagem, dividiu o copo de coca-cola, a tela do notebook, o pedaço do travesseiro... Dá um certo receio, um medo de falar algo errado. 
É a urgência em confortar, mas ela vem de forma desajeitada.
A situação é nova pra todo mundo. E aí nos enchemos de dedos, pensamentos de mais, ações de menos.
Eu mandei uma mensagem tímida, clichê, com umas frases prontas, que depois de enviada eu pensei
"Sua anta! Precisava ter sido tão brega assim?"
Não sei se foi pouco, não sei se acalentou, não sei se faltou presença física.
E nem quero que haja uma "próxima vez" pra eu testar um método diferente.
Eu sei que foi o que de melhor sobrou em mim, foi o que de mais carinhoso eu tinha naquela hora.


Depois de alguns dias, nós nos encontramos.
A palavra "câncer" parecia um fantasma, um mau agouro. Era como se fosse uma fumaça que estava ali nos espreitando. 
Ninguém queria falar sobre isso abertamente, mas era preciso exorcizar o fantasma.
Afinal, se aquele assunto fosse tabu entre nós, a amizade não teria sentido algum.
E entre assuntos banais, finalmente conseguimos falar sobre a doença. De forma natural, sem dramas, sem exageros. 


Eu admirei a minha amiga. Eu achei lindo a forma como ela estava conduzindo tudo.
A força, a determinação, a coragem. Quando ela disse que havia escolhido viver, 
eu acreditei que tudo ia ficar bem. É nisso que eu vou continuar acreditando.
A brutalidade do tratamento, a crueldade da doença, os efeitos colaterais, nada disso vai transpassar o escudo. 
Estamos todas à postos pra qualquer batalha. Sobretudo ela.


O time da tristeza não conseguiu virar o placar. Saber rir de si mesmo, enxergar as situações com todas
as suas nuances, ser multifacetada, isso nós fazemos bem. É uma virtude.
Eu acredito muito que a vida nos dá oportunidade de escolher àqueles que queremos por perto.
São pessoas que acrescentam, nos somam, pra no final termos histórias bonitas pra contar.
Enquanto isso, a vida começa a cada instante e não se deve olhar pra trás nem se lamentar.
É lutar com as armas que se tem, descer pro playground e brincar sem medo de ralar o joelho.


Minha amiga é dessas.
E eu encontrei o meu lugar, junto delas. 


Amiga, você é meu orgulho, meu exemplo, um dos motivos pelo qual sorrio. 
"Se tu vens às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz."

Te amo muito.

Mayara
quarta-feira, outubro 12, 2011 3 comentários

Mimada

É difícil encontrar as pessoas agora que sou "peruquenta". 
Pelo menos em um primeiro momento, porque todo mundo fica analisando meu novo visual.
Já passei pelo crivo da minha família toda e do meu amor.
Amanhã é dia de encarar o pessoal do escritório e eu estou morrendo de frio na barriga. Ninguém ficaria analisando a minha cara nova se o cabelo estivesse, de fato, grudado na minha cabeça pelos fios e não por uma rede, mas... é a vida.

Estou mais tranquila em relação à minha nova aparência, afinal não poderia sofrer para sempre.
Essa noite sonhei que não tinha raspado a cabeça e que estava na rua e meu cabelo tinha caído mais e estava cheio de falhas, eu ficava tentando esconder. Um desastre. Então, conclui que a minha decisão foi a melhor. O que mais me desesperou foi ver a queda. Acreditem, não é fácil.
Cada vez que eu me olho no espelho de lenço eu penso assim: "Nossa, fulana não ia aguentar ter câncer... ia estar deprimida demais!", "Afe, se fosse com tal pessoa, dúvido que ela conseguiria sair de casa", "Ih, se cicrana ficasse careca morreria. Mimada demais!" e  depois eu penso: quem diria que eu ia aguentar? Mimada demais eu sempre fui. Sempre pareci fraca demais também, mas eu não sou nada disso. 
Descobri uma força inacreditável. 
Meu pai me viu dar um sorriso ontem e deu um pulo no meu pescoço dizendo que estava muito feliz porque eu estava rindo de novo. Mas gente, calma lá, eu fiquei dois dias sem sorrir, e só. Foi meu período de luto, agora tudo tem que voltar aos eixos.
A segunda vez que eu me vi no espelho sem cabelo, com pouca sobrancelha e pouco cílios, sabe o que eu fiz?? Eu ri, pensando se eu parecia mais com um judeu no campo de concentração ou uma mutação genética sem pêlos. 
Eu não posso chorar para sempre né??? Então, eu tive que rir. Afinal, câncer não é para os fracos.
Sendo assim, vamos em frente porque a luta continua!

Beijos,
Thai.
segunda-feira, outubro 10, 2011 9 comentários

Post sem título

Meu cabelo se foi.
Começou a cair e não parou mais. Junto com ele foram muitas coisas: minha tranquilidade em relação ao tratamento, meus outros pêlos do corpo todo, minha paz interior. E chegaram coisas novas: medo, dor, nó na garganta.
Começou a cair de pouquinho em pouquinho. Não tive nenhuma dorzinho no couro cabeludo, veio sem anúncio. Eu estava aguentando ver a queda dos fios. De repente, caiu um chumaço e eu me desesperei completamente. Aliás, ainda estou desesperada.
Durante todo o tratamento eu usei uma técnica simples: cada momento difícil, eu pensava nos melhores momentos da minha vida (os que já passaram e os que eu sonho com o dia que virão). Tomografia: Lucas e Giulia brincando na piscina. Dieta da Urografia: carinha de nervoso no Nicolas bebê. Anestesia: a felicicidade dos meus pais na minha formatura. Agulhada da quimio: primeiro beijo no meu namorado.
Mas dessa vez não consigo pensar em nenhum bom momento capaz de conter a minha tristeza. A cada fio de cabelo caindo da minha cabeça foi como se apagasse um momento de felicidade da minha memória.
Mesmo sabendo que esse dia iria chegar e a queda de cabelo ser uma tragédia anunciada, isso não significa que o sofrimento está sendo menor. A previsão da tragédia não redimi a dor que ela traz.
A cada tesourada nas minhas mechas loiras, eu sentia como se fosse uma tesourada dentro do meu coração.
Hoje, 10 de outubro de 2011 foi, sem dúvidas, o dia mais triste de toda a minha vida.
sexta-feira, outubro 07, 2011 2 comentários

Post da mamãe I.

Hoje resolvi fazer uma coisa diferente!
Resolvi pedir para uma pessoa escrever aqui. A primeira de muitas outras pessoas que vão escrever aqui, porque minha mente não tem tanto espaço assim para criativade. Alô, Ctrl + C, Crtl + V!
E quem inaugura esse espaço é minha mãe linda e fofa. (lágrimas!).

 
"Hoje resolvi postar pela primeira vez.
Quero deixar registrado aqui o quanto corajosa, batalhadora e alto astral esta menina é.
Sempre a vi muito frágil, criada cheia de dengos,mimos e vontades, me surpreendi com a força 
interior desta guerreira, ela nos deu uma lição de fé, força e valentia.
Tem enfrentado cada momento, cada fase do seu tratamento com tamanha força e coragem que nos fez ver o quanto é gigantesca.
Aprendo todos os dias e me apóio na sua segurança para superar junto, cada nova etapa.
Por trás desta fragilidade, existe uma guerreira!
Thai, desde que Deus me presenteou com aquele bebê lindo, loiríssimo, grandes olhos azuis (que depois ficaram verdes), eu sabia que seríamos parceiras para sempre, sabia que teria grandes momentos a teu lado, sabia que nossa amizade e nosso amor superaria qualquer problema...não estava enganada, tenho certeza que estaremos juntas sempre, em qualquer situação e em todos os momentos de nossas vidas, nos apoiando e cuidando uma da outra até eu ficar bem velhinha e virar uma filha (igual a vó Amélia) precisando dos teus cuidados.
Estou com vc agora e sempre, minha guerreira!
Agradeço todos os dias a Deus pelos amigos  maravilhosos que nos dão tanta força e pela família linda que temos e tem nos apoiado sempre.
A sua luta é a NOSSA luta, juntos e com as forças unidas JÁ VENCEMOS!"
quinta-feira, outubro 06, 2011 2 comentários

Steve Jobs

Ontem morreu um dos maiores gênios da humanidade. E adivinhem qual foi a causa da morte? Câncer.
E a primeira coisa que me veio na cabeça foi a injustiça de uma doença maldita dessas levar uma pessoa tão importante para a evolução do mundo, mas depois esqueci isso e comecei a ver que, na verdade, ele se foi, com 56 anos, deixando um legado tão incrível e icomensurável que ele só podia ser uma alma mais evoluída que todas as outras que estão vagando aqui na Terra.

Ele poderia ter morrido em um acidente aéreo, naufrágeo, ataque cardíaco, febre tifóide, pneumonia, hiv ou qualquer outra coisa, mas não, foi de câncer que ele morreu.
Não tem jeito, não existe como pensar em câncer, sem pensar em morte.
Parafraseando o mestre: "Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá".
Porém, Steve Jobs foi uma exceção, ele passou nessa vida, arrasou, fez a parte dele e revolucionou a humanidade.
Meu caso é completamente diferente. Eu ainda não tive tempo de fazer nada disso, por isso, não tenho tempo de pensar besteira. Meu caso é diferente do dele!
Eu ainda não revolucionei o mundo. Ainda! 
segunda-feira, outubro 03, 2011 3 comentários

A história dos outros.

Segunda-feira agitada.
Uma semana depois da primeira sessão da quimio e hoje eu fui providenciar meus cabelos novos (estou com uma certa raivinha do nome "peruca").
A gente sempre tem que contar um pouco da nossa história para as pessoas, mas tem muita gente que quer contar a história da prima, da vizinha, da colega, da irmã, da amiga da amiga, e eu escuto todas, mas algumas eu odeio ouvir. Outras me ajudam a lembrar que eu não estou sozinha nesse barco furado.

Hoje eu ouvi história de uma senhora que teve o primeiro câncer há 20 anos atrás e ele voltou várias vezes (odiei!). Ouvi a história de uma menina que raspou o cabelo no salão lotado em um sábado e TODOS CHORARAM (segurei o choro!). Ouvi história de uma menina que tacou tanta química no cabelo que o cabelo caiu e ela teve que raspar por pura burrice e depois colocar mega hair (dei graças a Deus ter nascido mais esperta que essa).
Mas principalmente, eu ouvi uma história da boca de uma personagem real. Tão real quanto eu.
Enquanto eu estava definindo a minha própria peruca (argh!), ela chegou para raspar o cabelo. Na verdade, ela ia cortar o cabelo e salvar para fazer a peruca dela, mas enfim, o dia dela ficar careca, triste e deprimida era hoje.
E nós conversamos uns dez minutos e eu tive tempo de descobrir que ela é uma professora universitária com emprego "full time" e que descobriu o câncer de mama dia 29 de agosto (dez dias depois de mim) e já fez três sessões de quimio. Mas ela faz uma por semana e ainda faltam nove semanais e mais não sei quantas com espaçamento de 21 dias antes de ela (talvez) poder operar.
Os exames iniciais dela não foram bons e ela vai precisar de um medicamento mais agressivo para ver se melhora o quadro. Já está usando um catéter e disse que a medicação é super ardida para entrar.
Dai que eu não fiquei triste por ela, porque ela não é triste por ela. Ela fala da própria história sem embargar a voz e levou uma câmera fotográfica para registrar o momento da carequice chegando.
Antes de ir embora eu desejei "Boa sorte!", porque não tem mais nada que se possa falar para uma pessoa como ela. Ela só precisa de sorte, porque força ela já tem.
Depois, eu marquei com a minha cabelereira de ir em casa tirar meus fios quando chegar a minha hora de perder eles, coloquei um (dos muitos) lenço novo na bolsa e voltei a trabalhar, porque tudo o que eu quero é isso. Viver minha vida.
 
;