sexta-feira, setembro 09, 2011

Solidariedade.

Esta aí uma coisa que eu ando despertando nas pessoas: SOLIDARIEDADE.
Todo mundo é solidário com uma pessoa que leva uma invertida dessas da vida. Todas as enfermeiras, secretárias e até médicas olham  par a minha cara de saúde (haja blush!) e perguntam: "Como foi que você descobriu?" ou "Mas você nunca sentiu NADA??".
E as respostas são sempre as mesmas e eu nem me canso de falar sobre isso, porque eu até gosto de sentir essa solidariedade, principalmente das mulheres, porque qualquer pessoa poderia estar no meu lugar.
Mas esse é o sentimento que se transforma em pena ou dó e isso eu não quero, de jeito nenhum.
Não quero ninguém olhando para mim e pensando: "Coitadinha dessa menina, tão cheia de vida e de repente está ai, passando por essa coisa hor-rí-vel!". Na realidade, tenho pavor de pensar que outras pessoas vão olhar para mim e pensar isso.
Eu odeioooooo imaginar alguém tendo dó de mim!
É claro que eu espero compreensão e solidariedade dos outros, mas não quero que ninguém perca o tempo me achando uma pobre coitada golpeada pelo destino.
Essa é uma linha tênue e contraditória. 
Por exemplo, quarta-feira eu estava em São Paulo e encontrei com a Lilian, minha amiga há 15 anos, que eu amo demais... e simplesmente, não tive coragem de contar para ela, olhando nos olhos dela, que eu tenho câncer. 
Eu jantei, conversei sobre vários assuntos, mas não mencionei o fato de que semana que vem eu vou começar a quimioterapia. Fiquei quieta, e estou pensando como vou contar para ela por e-mail.
Sabe por que? Porque eu não queria que ela olhasse para mim com dó. Não queria mais nenhuma pessoa no mundo sofrendo por minha causa. Já bastam meus pais, meus irmãos, cunhadas, namorado, amigas, avó (uma das minhas avós ainda não sabe!) e etc. Eu não queria que ela me olhasse com pena. eu não ia aguentar isso.
Em compensação, no dia seguinte, quinta-feira, fui na Embaixada Americana para tirar meu visto. Filas enormes, milhões de pessoas espremidas, calor, filas intermináveis. Quando eu vi uma grávida furar a fila, pensei: "É agora que eu chego naquela atendente com cara de boazinha e digo que tenho câncer e estou com muita dor, só para ela me passar na frente". Se ela ia me olhar com dó ou não, não me interessava. Eu só queria furar a fila. Mas dai, me dei conta que não ia colar, afinal, eu tenho uma cara saudável. (Graças ao blush! Mas ainda assim saudável).
Acabei pegando a fila e tendo tempo suficiente para me dar conta que eu sou forte demais, sempre fui, para aceitar estar em posição de inferioridade. E, por isso, é tão difícil acreditar que eu estou fazendo as pessoas a minha volta sofrer e que essas pessoas estão gastando toda a solidariedade que elas tem dentro delas, comigo. Mas ao mesmo tempo, esse é um sentimento que eu preciso. Então, vou deixar rolar... não posso impedir ninguém de sentir o que estão sentindo em relação a minha doença.
A parte mais engraçada, nisso tudo, é imaginar que daqui uns dois anos eu posso ser uma daquelas pessoas que dão depoimento no final do capítulo da novela do Manoel Carlos e fazer o Brasil inteiro chorar de pura solidariedade. (hahaha)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
;